Nossos dias são uma coleção de momentos, ou seja, das coisas que fazemos. Isso significa dizer que são uma coletânea de hábitos. Se eles forem bons, "Yupii!! Vida Boa!" Se forem ruins... bom, vamos torcer para termos uma segunda chance.
Rotina é só uma forma de organizar estes hábitos, mas temos um baita preconceito com ela, coitada. A palavra em si significa fazer algo sempre do mesmo jeito. O que nos leva automaticamente a um lugar que nos parece monótono, sem vida.
Mas isso só é verdade se o que se repete é ruim.
Estamos carecas de saber que criança precisa de rotina. Sem isso a casa cai e todos ficam malucos. Mas será mesmo que são só elas? Uma rotina que nos sirva (e não o contrário) é o caminho para o paraíso. Pode acreditar.
Vou ser honesta ao dizer que ainda não encontrei meu caminho para o Santo Graal da rotina. Passamos um ano para nos organizarmos em tantos novos sistemas que durante este tempo nos esforçamos ao máximo para que nada mudasse para as crianças, enquanto nós, nos bastidores, sofríamos para manter alguma coisa sempre rolando da mesma forma para nós. Ignoramos por bastante tempo o aviso de colocar a máscara de oxigênio primeiro nos adultos, e por isso, pagamos um preço.
Como já era de se esperar, durante este tempo testei muitas coisas. Pesquisei, aprendi. Ainda estou na luta, é verdade, mas já dá pra compartilhar um pouco do que andei entendendo sobre bater o tambor e seguir no ritmo da batida.
Deixei aí então 3 verdades que descobri sobre como uma BOA ROTINA pode ajudar:
1. Ela guarda seu Poder de Decisão para o que importa
Olha que interessante este estudo. Os pesquisadores Jonathan Levav, Liora Avnaim-Pesso e Shai Danziger da Stanford School of Business da Califórnia analisaram 1.112 pedidos de liberdade condicional por 8 juízes, durante um período de 10 meses. Os juízes ouviam os argumentos e levavam em torno de 6 minutos para decidir, analisando de 14 a 35 pedidos por dia. O ritmo era acelerado e eles tinham apenas 2 intervalos, um lanche pela manhã e um almoço tardio.
Sabe o que acontecia? Logo pela manhã ou depois de cada intervalo as chances de ter seu pedido de liberdade aceito eram de 65%. Já perto do final de cada período, as chances eram de sabe quanto? ZERO. Isso mesmo, nadica.
Isso mostra na prática o que acontece quando o cansaço mental toma conta em função de toda a energia canalizada em tomar decisões. Quando estamos cansados, partimos para nossas escolhas "default". As que exigem menor risco, as que já estamos acostumados. No caso do estudo, deixar o prisioneiro atrás das grades é o caminho mais rápido e seguro (já sabe, se tiver audiência fica ligado no horário).
Quando você gasta tempo e energia bolando rotas diferentes para chegar ao trabalho, pensando em que roupa vai combinar com aquela peça que você comprou e que não vai com nada mais do guarda-roupa, o que você vai fazer pro jantar, que horas vai comprar o presente do aniversário do João e por aí vai, você gasta sua força de vontade e suas melhores decisões com coisas que não valem lá muito à pena.
Quando o dia termina você acabará com energia zero para decidir entre uma boa refeição e um pacote de bolachas. Ou ainda entre fazer algo bacana com quem você curte ou zumbizar na frente da televisão. Ou seja, ter uma rotina te permite tomar melhores decisões.
2. Ela diminui sua Carga Mental
Sabe aquela sensação boa que a gente tem quando escreve numa lista tudo que estava na cabeça, depois vira pro lado e dorme como um anjinho? Pois bem, isso é a carga mental indo embora.
Ela representa aquela lista imensa de coisas que ficam num ir e vir sem fim na nossa mente. Repassamos mentalmente dezenas de vezes o que deve ser feito, sem de fato fazermos nada. Ou seja, energia que se vai em vão.
Posso estar sendo injusta aqui, mas me parece que a carga mental castiga de forma especial as mulheres. Este quadrinho feito pela ilustradora francesa Emma ilustra bem este ponto.
Estabelecer tempo para as coisas, contemplando na jornada espaço para cada tarefa do cotidiano nos traz a paz de saber que há tempo suficiente para tudo. Inclusive para o não planejado. Tudo vai dar certo no final.
3. Ela proteje você de você mesmo
Não há dúvidas de que eu e você sabemos o que precisa ser feito. Se você me pedir agora mesmo para desenhar minha rotina ideal ela estará pronta em menos de 5 minutos (no caso já está). Segui-la é uma história bem diferente.
Sabemos que para operar com 100% de potência precisamos de bom combustível, exercícios, sono, tempo de descanso, lazer e tudo mais. A questão é que burlamos nossas próprias regras.
Nos planejamos para ir na academia e passamos o dia num diálogo mental interminável, inventando desculpas e nos auto-consolando. "Se chover eu não vou, mas amanhã de certeza" (culpa de São Pedro); "Vou ter que ficar até mais tarde aqui, se não entregar isso hoje vai dar ruim" (culpa do chefe); "Ontem dormi muito tarde, não deveria ter visto mais um episódio" (culpa minha, essa eu assumo). E a nossa lista não tem fim.
Qualquer coisa fura a fila daquilo que não queremos, mas devemos fazer. A rotina cria marcos inegociáveis, ao redor dos quais todo o resto orbita. Ou seja, o dia só começa depois que eu fizer "Y". No meio do dia sempre tem "X" e o dia só acaba com "W". É como escovar os dentes, tem que fazer.
É claro que a vida é imprevisível, e é só com isso podemos contar. Mas também é verdade que na maioria das vezes nada de tão anormal acontece, e os pequenos percalços poderiam ter sido superados para mantermos aquilo que deveria ter sido feito. E acredite quando eu digo isso: com um filho que acorda 345 vezes por noite me tornei a rainha das desculpas.
Coloque marcos inegociáveis na sua rotina. Não negocie consigo mesmo e nada vai te impedir de chegar onde você quer chegar.