Adoro ver os turistas se fotografando em frente aos canais ou se apertando contra as tulipas enquanto buscam um ângulo bom para a foto. Cada um enamorado de si mesmo, no belo quadro em que se veem. Todos - gordos, magros, altos, baixos - estampando suas melhores versões.
Se sentir bem na própria pele é isso. Não se trata de ser bonito da forma literal, como uma rosa no dia em que desabrocha. Simetria e perfeição áurea, incontestável. Nós não somos assim (pelo menos não a maioria de nós). Fomos criados a partir de milhares de combinações, de um jeito perfeitamente criativo e único. Nossa única versão, caóticos como uma obra de Miró.
Quando crianças somos tão elogiados pela nossa beleza e fofurice que sinto que preciso te dizer algo sobre isso agora. Minha infância e adolescência foi um semi-intensivo de não se reconhecer dentro de mim mesma. Eu precisava tomar doses muito altas de corticoide então era como um balão que infla e esvazia a toda hora. Um dia, não me lembro exatamente em que fase dessa montanha russa, minha mãe me disse algo que me recordo nos piores dias do meu espelho:
"Filha, até quando você não está bonita, ainda é muito mais linda do que imagina".
Não sei se foram essas exatas as palavras mas este é o sentido. Você é mais bonita do que se percebe, mesmo nos seus piores dias. Isso me ajudou a construir minha auto-estima e crescendo percebi que essa beleza não era a da revista. E que realmente não existe uma só. Existem milhares de belezas diferentes, e que o cliché de que ela "vem de dentro" era a mais pura verdade. Conheci gente linda que assustava quando abria a boca ou só pela expressão do olhar. E gente por quem todo mundo se derretia sem saber muito bem porquê. Beleza do conjunto, da presença, alguma coisa que irradia. Encanto, difícil de explicar.
"Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso" Mateus, 6:22
Hoje penso que beleza é me sentir confortável em mim. Com meus pés e minhas mãos grandes, com as manchas da minha pele, com os quilos sobrando nos lugares errados. E com tudo que não importa mais. Crescendo vemos tantas tragédias e tristezas que um dia entendemos que as coisas mais simples são as mais importantes. Banho quente, caminhada, vento no rosto, beijo, o cheirinho do seu pescoço.
Nesse tempo aqui tenho confrontado minha vaidade e pensado muito no que quero te ensinar sobre a beleza e sobre se amar do jeito que se é. Não tento mais ser como aquela rosa, porque ela é frágil demais para este tanto de pé no chão e sol na cara. Talvez uma orquídea, com sua forma maluca e uma combinação improvável de cores que estranhamente funciona.