Eu sempre adorei histórias de pessoas que mudavam radicalmente de vida. Aquelas que depois de uma epifania trocaram o cotidiano bom e seguro para abrir um restaurante itinerante, viajar para o Nepal ou começar uma nova faculdade. Sempre suspirava e me imaginava numa vida diferente da minha. O problema é que, ironicamente, minha vida era (é) ótima e qualquer mudança parecia cansativa e insana demais. Tinha um trabalho fantástico, uma família maravilhosa, uma cidade tranquila, uma casa pra chamar de minha.
Esse desejo totalmente despropositado vinha de uma vontade de repensar as coisas importantes da vida, especialmente o tempo que dedicava aos meus filhos. Buscava o caminho do meio. Queria ver se existia algo diferente da vida corporativa, das 8 às 18 h, terceirizando coisas importantes, como o cuidado com os pequenos e comigo mesma.
Em menos de dois meses depois que meu segundo bebê nasceu, me recuperei da cesária, deixei um trabalho onde estive por 15 anos, me desfiz de todas as coisas da casa, doei os brinquedos da pequena, distribuí por onde passei o que acumulamos pelos últimos 10 anos e me despedi das pessoas que amo.
Assim, em fevereiro de 2018 nós chegamos em Amsterdam. Eram 9 malas, uma criança, um recém-nascido, uma diferença térmica de 57 graus e quase nenhuma noção. Fiz o que sonhei sem coragem por anos: apertei o reset e comecei a vida de novo.
Naquele momento minhas aspirações pessoais e profissionais eram tão grandes que entendi que só poderia abraçar uma de cada vez. Queria que fosse perfeito, e assim elas ocupavam 100% do espaço. Me pergunto quantas mulheres fizeram a mesma escolha, intencionalmente ou por falta de opção, despedaçando no chão algo precioso, para arremessar-se e segurar no ar o que era imensamente mais importante.
Chamei de “The Brave New Life” minha tentativa de criar uma vida em que eu fosse mais para os meus filhos e para mim mesma. Uma vida com menos coisas. Uma que eu escolhesse. O que eu descobri estava muito além do que eu poderia imaginar se não tivesse me permitido perder o que eu tinha.
Entendi que a nossa melhor versão em qualquer área será sempre nossa melhor versão humana. Sem reconciliação – entre nossos papéis profissionais e quem somos sem crachá, entre homens e mulheres, entre pais e filhos, entre expectativas irreais e o que é possível – continuaremos privando o mundo do talento de milhares de mulheres.
É preciso reinventar o modelo para nós e para nossos meninos e meninas, e isso começa nas nossas caóticas casas. E não estou falando de uma reconciliação romântica, mas de ações concretas, de ceder, dividir, abrir mão do controle, buscar ajuda, quebrar a cara e tentar de novo. Neste tempo de mudanças tenho aprendido a me reconciliar com meus papéis. Encontrei uma nova carreira pra chamar de minha e outros jeitos de ser mãe. Estudei e me apaixonei por criar conteúdos que inspirem um explorar criativamente suas carreiras. Aqui nesta página você pode acessar todos eles (entrevistas, cursos, livro, posts e tudo mais que veio no pacote).
A minha jornada não é portanto sobre o dilema carreira x maternidade. Ou ainda sobre como mudar de país e viver uma vida expatriada. E Deus me livre de escrever qualquer coisa a alguém sobre como viver a vida.
Escrevo essencialmente sobre mudança. Sobre a felicidade simples. Sobre arriscar-se numa existência mais criativa, mesmo nas pequenas coisas. Sobre imperfeição. Sobre fé. Sobre uma nova vida feita de coragem. Sobre falhar e tentar de novo. Sobre SER HUMANA mesmo.