Ontem no parque você tentava fazer amigos. A vi de longe com um baldinho na mão e um target bem definido. Escolhia uma criança, se enchia de coragem e ia até ela tentar brincar. Arranhava seu inglês e desesperadamente buscava alguma conexão. Alguém com quem pudesse se fazer entender ou mesmo que a fizesse se sentir pertencendo àquele lugar. Nada funcionava, infelizmente as vagas de amigos já estavam todas preenchidas. Todos tinham um par.
Você tentou um novo plano. Me pediu que fosse junto a você e fizesse as vezes do anfitrião, apresentando um ao outro. Seu pedido me comoveu e, mesmo percebendo algumas falhas no nosso plano, achei que deveríamos ao menos tentar. Não funcionou. Aparentemente amizade requer uma abordagem mais espontânea.
Meu coração se apertou demais ao vê-la se esforçar tanto. Você estava quase desistindo quando conversamos. Eu disse que para mim também era difícil fazer amigos aqui, mas que eu simplesmente tinha amado o jeito com que você tentava. A coragem com que se jogava e interagia, sem medo do fracasso, sem deixar que nem mesmo a questão do idioma a impedisse. Amei ver essa vontade em você.
Sugeri que você não tentasse mais. Que só sentasse na areia, com seu baldinho, e começasse a brincar. "Construa, e eles virão". Espere que venham até você. Pedi que confiasse em mim. Depois de mais duas ou três tentativas fracassadas você seguiu meu conselho. De longe eu repetia pra mim mesma "Oh Deus, por favor, não a deixe sozinha ali".
Em poucos minutos duas meninas apareceram. Exatamente aquelas que você queria muito conhecer. Sem nenhuma palavra vocês começaram a brincar. Você sorria como Mona Lisa e me olhava discreta, vibrando por dentro. "Deu certo! O mundo é bom de novo".
Ali agradeci a Deus pelos amigos que você já tem e desejei que você pudesse colecionar tantos quanto pudesse ao longo da vida. Dos mais diversos tipos. Aqueles que só de olhar extraem de nós o há de mais escondido e os que só arrancam risadas. Os que ficam pra vida toda e os que estão de passagem. Os cúmplices e os superficiais. Os cheio de defeitos e os adoráveis.
Saímos dali vencedoras, e eu pensando que minhas amizades mais genuínas aconteceram assim. Sem tentar. Amigos se fazem ao acaso, enquanto estamos distraídos enchendo nossos baldes de areia.